O avesso do avesso: cidade pós-pandemia
O avesso do avesso: cidade pós-pandemia
A vida urbana, assim como a humana, é cíclica. É um movimento de aproximação e distanciamento da própria natureza humana. Essa oscilação reflete na construção dos espaços da cidade, da nossa forma de viver que na sazonalidade, conduz a artificialidade (o extremo da distância) e a naturalidade (o extremo da aproximação). Fenômenos como a pandemia, guerras, crises econômicas é sempre um acelerador desses trajetos, seja para qual polo for.
Para mim as cidades chegaram bem próximo ao extremo da artificialidade, fomentadas pelo salto tecnológico a serviço do neoliberalismo, focado na produção de capital e não na promoção a vida, como deveria ser. Toda o conhecimento e tecnologias deveriam estar a serviço do bem-estar das pessoas. Deveriam ofertar soluções para reduzir as desigualdades, a pobreza e otimizar nossos recursos. No entanto hoje, constatamos que todo o avanço tecnológico e a produção de capital não foi o suficiente para nos proteger diante da pandemia. Pelo contrário, ela ressaltou as maiores fragilidades: a desigualdade social e desequilíbrio ambiental.
O maior desafio agora é repensar as cidades com o objetivo de recriar uma geografia humana fora da agenda neoliberal e redesenhar a geografia urbana focada na acessibilidade universal protegendo a saúde pública, devolvendo a cidade às pessoas. É preciso fortalecer atividades urbanas que gerem menos competitividade, menos segregação e mais equidade, como o investimento no transporte coletivo e modais alternativos, na produção de espaços públicos e no acesso a moradia.
Os próximos tempos exigem que aprendamos a viver numa proximidade regulada e isso implica ter que reinventar a forma como organizamos no espaço e no tempo. As funções do trabalho, do ensino, do lazer e cultura e da mobilidade uma vez adaptada a essas novas formas, claramente rompe padrões. Mas a ruptura é também a oportunidade de reinício e de resignificar a forma como nos relacionamos com os espaços da cidade e com as pessoas, nos conduzindo, quem sabe, ao movimento de aproximação da nossa natureza.
Laura Rios
laura@creatorearquitetura.com.br
Arquiteta e Coidealizadora do Projeto Estar Urbano