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E para quem mora mal?

E para quem mora mal?

A recomendação do distanciamento social tem sido essencial para a redução do ritmo de contágio nessa pandemia. Mas a medida exige que as pessoas fiquem isoladas em suas casas, em condições básicas de higiene, e, assim, “achatar a curva” de contágio.

Mas o que fazer quando as condições de habitação não permitem o isolamento? O que fazer quando 11 milhões de pessoas no país vivem em favelas sem condições sanitárias?

São 35 milhões sem acesso a água e quase 100 milhões sem coleta de esgoto no Brasil. Numa crise sanitária, isso é um agravante: além do déficit habitacional, a falta de saneamento básico aumentou mais ainda a exposição da população ao novo vírus. A morte por COVID-19 vem crescendo em velocidade muito maior nas localidades com situação habitacional mais frágil como favelas, comunidades, periferias.

Essa situação atual só reforça o que há décadas temos visto no país: a precariedade do habitar é um risco a vida e tem causado mortes. E é exatamente essa vulnerabilidade que agrava também cenários como esse, de epidemias na cidade. 

Vou dar um exemplo para comparar: Hoje contabilizamos aproximadamente 500 mil mortes no mudo pela COVID. Porém recentemente a OMS publicou dados de que 270 mil crianças no mundo morreram durante o primeiro mês de vida em consequência da dificuldade de acesso à água tratada, ao saneamento e a unidades de saúde. E também cita que 1 em 4 causas de mortes de crianças é por conta da poluição.

 Então posso dizer que a forma como deveríamos olhar para esses dados é: boa parte das mortes por COVID é em decorrência do não acesso a moradia digna, do não acesso a saúde e a educação e da exclusão social, uma vez que parte da população não tem suas necessidades básicas garantidas. Quero ressaltar que a vulnerabilidade social é uma sobreposição de riscos a vida que sempre vai estar explicitadas em situações de crise como essa. É preciso atentar para a raiz do problema, que no nosso caso, não é o vírus, é a forma de como nos damos com a desigualdade na cidade.

Laura Rios

laura@creatorearquitetura.com.br

Arquiteta e Co-idealizadora do Projeto Estar Urbano

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